Porque as bizarrices cotidianas devem ser comentadas

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Mais um conto Caraivano. Ou: "JOGUE ÁGUA NELA"

Essa história não é minha. Essa história é da minha irmã Gabi, que lá na antiguidade teve o bom gosto de decidir passar anos de sua vida enfiada em Caraíva, com a bunda cravada na beira daquele rio, colhendo material para a gente colocar nessa trolha aqui.

A coisa foi mais ou menos assim:

Gabi residia em uma bela casinha amarela e tinha como vizinha a amiga Ducarmo. Elas eram muito felizes naquela vida sem muros, onde se você decidisse colocar fogo em seu quintal para espantar formigas, por exemplo, a chance de matar seu vizinho tostado em estilo pururuca era imensa; aquela vida sem fronteiras, onde mesmo sem querer, você obrigatoriamente tomava conhecimento sobre o que se passava no lar adjacente; aquela vida linda, onde você de repente começava a ouvir a cantoria da querida Edith no meio do dia......e tudo permanece assim, até hoje, essa imensa bola de amor.

~~~~voltando pro corpo após breve devaneio~~~~

Um belo dia, Ducarmo alugou sua casa e pessoas que Gabi jamais havia visto na vida chegaram em Caraíva. E se instalaram ao lado de sua casinha amarela. LEGAL.

Daí que Gabi tá lá, naquela correria de Caraíva, alternando atividades como olhar para o teto e coçar o dedão do pé, quando começa a ouvir gritos de horror:

"AAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHH!!!!!" - [mulher. grito agudo de pavor]

Gabi dá um salto. Pensa por um segundo e conclui que estão ASSASSINANDO alguém ali em frente. Outro grito, ainda mais assustador que o primeiro:

"AAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!"

Ela pára de coçar o dedão e assume posição de alerta. Decide prestar atenção, no sentido de estabelecer a localização exata da provável vítima de escalpelamento. A partir daí ela ouviu esta sequência de gritos entre a criatura histérica e um outro ser humano que a instruía na tentativa de acalmá-la:

"PARE DE GRITAR!" - [voz de homem, forte sotaque baiano. gritando, porém falando lentamente]

"AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHH!!!"

"PARE DE GRITAR!"

"AAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!"

"JOGUE ÁGUA NELA!"

"AAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!"

"JOGUE UMA TOALHA NELA!"

"AAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!"

"PARE DE GRITAR!'

Os gritos pioravam. O descontrole da mulher aumentava.

"JOGUE ÁGUA NELA!"

Mais gritos. Ainda mais altos. Gabi pensando em invadir. Ela acabara de constatar que os berros vinham mesmo da casa de Ducarmo.

"PRESTE ATENÇÃO! PARE DE GRITAR! JOGUE ÁGUA NELA!"

Gritos horríveis, incessantes

"JOGUE UMA TOALHA NELA!"

E essa conversa estendeu-se por muito tempo. Gabriela curiosíssima, maquinando sobre o que poderia ter causado tamanho furdunço sob o céu de estrelas.

Quando os nego decidiram parar de gritar, ela foi averiguar o caso. Mesmo porque seria necessário certificar-se de que o Jason ou algo do tipo não havia de fato passado por ali. Questão de garantia de vida e tal.

O ocorrido:

A pessoa aportou pela primeira vez em uma cidade onde não há calçamento, nem energia elétrica, nem uma cidade em si, para ser exata. Um lugar onde a fauna é dominante. Um perímetro que nos mostra didaticamente o conceito de "A Natureza é Hostil ao Homem".

Porque eu mesma já cheguei em Caraíva pela primeira vez muitos e muitos anos atrás, e garanto que muita gente pensa em ir embora, ou comprar Baygon e um facão, sei lá. Não foi meu caso, mas isso não vem ao caso [ui].

Bem. A tal figura instalou-se em seus domínios baianos e decidiu tomar um simples banho. Entrou no banho. Junto com ela entrou uma aranha de 20 centímetros de circunferência e 10 centímetros de altura. Sim, este bicho existe e já me atacou lá mesmo. Foi isso. Essa gente não tem pedigree para viver uma temporada que seja em Caraíva, te contar viu.

A partir de então, sempre que nos deparamos com alguma crise, independente de sua natureza, o comentário inicial é:

"JOGUE ÁGUA NELA" - com sotaque.

**Este post é dedicado à Red. Foi por causa de alguma besteira protagonizada por ela que nos lembramos desta história que havia tanto tempo, habitava a parte mais empoeirada de nossos cérebros senis.

2 comentários:

Carlota disse...

Esse bicho não se perdeu em algum lugar entre a Bahia e o set de Aracnofobia, não?

Paulinas disse...

toda a galera de aracnofobia mora em caraíva. com as famílias. e os mutantes